domingo, junho 29, 2008

Desventurados

São muitas as provas em 2008. Rivaliza de perto com 2007 em relação ao alto nível das oportunidades que se têm apresentado. Se não tomei nada equivalente ao Haut-Brion da comemorativa #100 da Bacco Ubriaco, já no final de 2007 sorvi o supertoscano Tignanello (que estou devendo no blog). Em 2008 vieram os top chilenos em várias degustações, alguns lalande-de-pomerol e pessac-léognan representando Bourdeux, o macio espumante Ferrari, borgonha, priorato, portugal, chianti clássico, ... e inúmeros outros vinhos bons. Foram tantos que este post sobre vinhos Desventurados está virando post de Resumo do Melhor de 2008.
Voltando ao ponto, quem lê tudo isso no blog pode até pensar que só bebo vinho de primeira. Não é o caso. Sempre estou procurando bons custo-benefícios nas mais variadas faixas de preço. Nessas aventuras é quase certo que hora ou outra toparei com vinhos ruins tecnicamente e com vinhos que definitivamente não me agradam.
Não dou conta de colocar todos que bebo no blog. Alguns são provados tão informalmente que na ocasião não havia como anotar. Esses dias estava na casa de um amigo que voltou de viagem ao leste europeu. Trouxe na bagagem um vinho de mesa turco, um grego e um Bourdeux Superior (este do free-shop). Aventuras que devido à informalidade da ocasião não virão para o blog, mas que formam também este enófilo.
Dessas aventuras surgem alguns vinhos que, de fato, não gostei. Não são de todo dinheiro perdido. Toda vez que bebo um desventurado desses tenho a sensação de que recalibro meus sentidos e vejo que não me enganam mais.
Vamos aos desventurados que analisei este ano e que ainda não estão no blog (sorte dos outros, daqueles que esqueci, risos):

TERRANOVA SHIRAZ 2006
Tomado em Janeiro foi o primeiro mico do ano. Aparência violácea, porém opaca. Desinteressante de saída. Madeira fechada e excessiva no aroma. Boca desequilibrada, com álcool, acidez e taninos em desarmonia. Não agradou desde o início. A Miolo errou neste 2006 do Vale do São Francisco. Pena, pois o rótulo é belíssimo.VV! 72. R$12,00.

FINCA LA LINDA TEMPRANILLO 2006
Acredite se quiser. Sempre gostei da linha La Linda. Já tomei outras safras deste Tempranillo e me agradaram. Os Malbec e os brancos são ótimos também. Não sei bem o que aconteceu com este 2006. Não estava estragado.
Bom aspecto. Nariz correto com geléia de fruta e sutil floral. Sem muita intensidade. Até aqui tudo bem. Já na boca: desequilibrado, alcaçuz, álcool excessivo. Final apresentando defeitos. Não agradou. Em 2006 a Luigi Bosca errou neste Tempranillo. VV! 77.

ALANDRA Vinho Regional Alentejano
Não foi propriamente um mico, mas como não atingiu 80 pontos está na classe dos vinhos que EVITO (ver classificação na barra à direita). Aroma simples, agradável, bem frutado e adocicado. É um vinho sem taninos, sem estrutura e sem corpo. Muito simples, porém agradável e docinho. VV! 79.

AURORA VARIETAL MERLOT 2005
Provado em fevereiro apresentou pouca cor, translúcido. Frutado, framboesa e animal. Pouco corpo, confirmando aparênca. Ligeiro. 11,8% de álcool. VV! 78. R$17,00.

CALAMARES Vinho Verde
Realmente não gostei deste vinho. Já paguei R$10,00 em verdes melhores. Era tão adstringente que travava a boca. “Micasso”!

Velha Vinífera #2 - Notas de Estudo

Abaixo, notas de estudo para orientar os membros da confraria em sua segunda reunião.

CEPAS
Entre as Vitis Viníferas existem variedades e mutações de uvas que produzem vinhos completamente diferentes.
Cabernet Sauvignon
A pequena casca-grossa. Por ter muita casca e pouca polpa é de baixo rendimento. Faz vinhos austeros, tânicos e com muita cor. Em geral, ruby-violácea na juventude e envelhece para o tijolo. Aromas de cassís nos jovens e cedro nos vinhos evoluídos. Busca-se a harmonia entre fruta, taninos e madeira. Considerada a Rainha da uvas.
Merlot
Uva chave dos grandes vinhos de St-Émilion e do Pomerol. Muito usada nos cortes de toda Bordeaux. Sabor macio e frutado, com cor mais escura. A merlot é colhida bem antes da Cabernet Sauvignon. Na Europa, a primeira em meados de Setembro e a segunda quase um mês depois.


BORDEAUX
Bordeaux é o nome da grande região ao sudoeste francês. Os rios Dordogne e Garonne descem do interior do país em direção ao Atlântico e fundem-se formando o rio Gironde.
A Apellation d’Origine Contrôlée Lalande-de-Pomerol fica ao Norte do Dordogne e é contígua ao Pomerol e a Saint-Émilion. Predominam vinhedos de Merlot, mas se planta em boa escala Cabernet Franc e Cabernet Sauvignon.
A AOC Pessac-Léognan é uma região especial à margem esquerda do Garonne, colada na cidade de Bordeaux. Produzem principalmente Cabernet Sauvignon, Merlot, Cabernet Franc e, em menor quantidade, Malbec e Petit Verdot.

SAFRAS
2000
Uma safra especial. Choveu apenas 1 dia entre o meio de Julho e o meio de Setembro.
Vinhos com suculenta fruta madura, taninos firmes, com muitos apresentando estrutura e profundidade que marcam os melhores vinhos. No Medoc vinhos mais complexos. St Émilion e Pomerol com os mais finos vinhos do ano.
2002
Foi uma colheita menor em quantidade, com vinhos estilosos e bem estruturados, mas que necessitam de tempo em adega. O verão foi mais frio e resultou em chuvas em agosto. Pior para varietais que colhem primeiro: Merlot. Setembro e Outubro foram quentes. Foi a menor colheita desde 1991, mas a tecnologia a salvou. Foi melhor no Médoc que em Pomerol e Saint-Émilion.

Referências:
Bibliográficas:
Larousse do Vinho.
Santos. José Ivan. Vinhos o Essencial.
Rede:
www.bbr.com – Berry Bros & Rudd: Venda de Vinhos na rede.
www.lalande-pomerol.com – Página da AOC Lalande-de-Pomerol.
www.dourthe.com – Dourthe: produtor do La Garde.
http://www.montviel.com– Montviel: produtor La Gravière.
www.winespectator.com – Revista Wine Spectator: avaliações de vinhos e artigos.

Velha Vinífera #2 - 14/06/2008 - Cab. Sauv. e Merlot

A Velha Vinífera reuniu-se desta vez com 14 confrades e confreiras para estudar um pouco mais sobre o mundo do vinho. Degustação interessante, onde o confronto da América do Sul com franceses foi a marca do evento. Não objetivamos rankear porque os vinhos daqui eram mais baratos. O fundamental era provocar os membros com uma nova experiência de vinhos franceses, pois costumamos beber mais os doces vinhos do novo mundo do que os clássicos complexos de além-mar.

CHATEAU LA GRAVIERE 2000
Apellation d´Origine Contrôlée Lalande-de-Pomerol
Nesta AOC predominam os vinhedos de Merlot, como neste vinho. Um pouco mais escuro, bem brilhante, com suave alo. Madeira delicada, baunilha muito bem integrada. Boca agradável, final fantástico. Este Merlot francês é finíssimo. Taninos redondos e macios. Para mim o melhor da noite. WS 87.
Os aromas mais citados pelo grupo foram baunilha, café e ameixa.

CHATEAU LA GARDE 2002
AOC Pessac-Léognan
Aqui há mais vinhedos de Cabernet Sauvignon (neste vinho próximo dos 45%). Mais claro que o primeiro, ruby com alo degradê. Aroma intenso, alguma mineralidade e flores. Com o tempo o vinho evolui e passa a oferecer tabaco e agradável pimentão. Ainda tem algum tanino como era de se esperar da presença de Cabernet Sauvignon, mas são frescos e bem amalgamados no conjunto. O mais elegante da noite. WS 89.
Os aromas mais citados pelo grupo foram rosas, defumado, especiarias e café.

COCODRILO 2004
Cabernet Sauvignon da linha básica da Cobos, na Argentina. Os rótulos são belíssimos fazendo referência a animais que representam o estilo dos vinhos. Esse Crocodilo lembra a casca grossa da Cab Sauv e a força da acidez e do tanino da uva. Aroma intenso, ataca o nariz, lembrou algo químico e cassis. Para mim o mais simples. WS 87.
Foi o vinho polêmico da noite. Alguns definitivamente não gostaram e para outros estava interessante. Entre os descritores encontrados: canela, baunilha, azeitona, especiarias e acetona.

SANTA RITA RESERVA MERLOT 2006
Este chileno tem aroma de pimenta preta. Provocativo, convida a beber. Herbáceo, agradou muito. Boca suave, adequada, algum tanino, porém delicado. Entre os dois sul-americanos preferi este. (Safra 2005 WS 87 e Safra 2004 WS 83)
A maioria gostou do vinho, mas alguns sentiram certo incômodo com o herbáceo. Foram citados couro, pimenta e doce, rumando para goiabada.

sábado, junho 21, 2008

Santa Carolina Reservado Carmenère 2005

Em meio a tantos vinhos de primeira, cabe provar e avaliar um mais barato um pouco. Tomamos no almoço este Santa Carolina acompanhando um risoto feito bem à colonia italiana.
O vinho deixou a desejar. Cor mais clara, rosadinha como muitos desta cepa, mas ainda mais claro. Falta brilho. Aroma de frutas. Boca desequilibrada, muito álcool. Sempre digo que a Carmenère faz vinhos baratos razoáveis. É a uva custo/benefício, mas este não foi o caso. A Santa Carolina costuma fazer vinhos agradáveis nessa faixa de preço, todavia errou no seu Carmenere 2005. Não faria nem 80 pontos. 13% de álcool. R$17,00 no Extra Alto da XV.
PS: Cuidado com o Extra. Estive lá fazendo compras e os vinhos estavam caríssimos. Só comprei aqueles com o destaque de promoção, aí sim preços normais. Em geral, um roubo!

domingo, junho 15, 2008

Les Vins de 5 Ans

Poucos dias depois de participar da fundação da Velha Vinífera, estava em 03/06/2008 a comemomar os 5 anos da confraria BACCO UBRIACO. Evento memorável, histórico e literalmente magnífico. Os vinhos da noite eram todos de belíssimas garrafas Magnum. Líquidos dos mais finos acompanharam excelente jantar no restaurante Boulevard:
Entrada
Salada Boulevard
Trouxinha de patê de foie gras com creme de funghi porcini e uvas fescas

Prato Principal
Talharim trinta ovos com ragu de Cracóvia de Prudentópolis (Prato da Boa Lembrança)
Entrecote grelhado com molho de cogumelos, purê de batata com aroma de pequi
Risoto de taleggio

Sobremesa
Creme brulee de chocolate
Torres de minha infância

OS VINHOS:

ASTORIA CUVÉE
Fomos presenteados pelo Boulevard com este prosecco interessantíssimo. Nada se parece com a maioria que vemos por aí. Bom corpo e muita maciez para um prosecco. Agradou.

FERRARI
Brindamos os cinco anos da confraria com este ícone dos espumantes italianos. Único na bota a conquistar por 16 anos seguidos os 3 bichieri do guia Gambero Rosso. Apresentou frutas, amêndoa, maçã. Boa acidez, adstringência e em boca confirmou, para mim, amêndoas e maçãs. Corpo extremamente cremoso. R$206,00 garrafa comum.

CLOS DE LA MARECHALE 2003 Apellation Nuits St Geroges Contrôlée
Este borgonha excepcional tinha bela aparência, brilhante. Fantástico, aromas defumados, notas tostadas e elegantes. Boca delicada, macia e sutil. Como era degustação comemorativa ficou difícil analisar cada vinho com mais profundidade, mas a Wine Spectator o descreve com cerejas negras licoradas, pimenta do carvalho e toques terrosos. É carnudo, com taninos musculosos e um longo final mineralizado. WS 90. R$500,00 Magnum.

LES TERRASSES 2003
Produzido por Álvaro Palacios, este Priorato é feito com 60% Grenache, 30% Carignan e 10% Cabernet Sauvignon. Apresentou aromas delicados e florais. Madeira sutil, intensidade média, especiarias. Muito complexo, algum mentol. Boca fresca, corretíssima, apresenta algum tanino ainda. Vai longe. WS 92. R$255,34 Magnum.

AURIUS 2003
Alenqer - Estremadura. A Quinta do Monte d'Oiro faz este vinho com Syrah, Tinta Roriz e Petit Verdot. Aromas delicados, belo herbáceo, especiarias. Ervas adocicadas e baunilha. Boca adocicada, geléia de fruta, taninos doces, porém vívidos, macios e elegantes. Temperos se confirmam em boca. Final fresco. Muito harmônico e saboroso. 14,5% de álcool. R$359,05 Magnum.

CASTELLO DI AMA 2003 Chianti Classico
Este Toscano é 80% Sangiovese, 8% Canaiolo e 12% Malvasia Nera e Merlot. Aromas de tabaco e café. Boca intensa e mineral, com elegantes taninos presentes. Muito gastronômico. 13,5% de álcool. 3 bichieri, RP 90, JR 18, WS 88. R$250,00 Magnum.

CHURCHILL´S TAWNY 10 YEARS
Terminamos a noite com este porto 10 anos de aparência menos âmbar que outros provados. Acastanhado apenas. Aroma a mel, suave, delicado, geléia e uva passa. Boca intensa, complexa e, para minha surpresa, especiarias. 19,5% de álcool.

Velha Vinífera

Foi com muito prazer e muito vinho que iniciamos nova Confraria em Curitiba:
A VELHA VINÍFERA.
Tenho a honra de coordenar o grupo formado em sua maioria por médicos e médicas que propõem-se a quinzenalmente estudar o fascinante mundo do vinho e passar momentos agradáveis provando o líquido de Bacco.
O vinho sempre traz alegria, estreita laços e constrói boas amizades. Assim esperamos que seja também com o novo grupo de degustadores.
Que a Velha Vinífera tenha longa vida!


Neste primeiro encontro apresentamos a parreira, a uva e o vinho. Abordamos aspectos da relação entre vinho e saúde e discutimos as sensações visuais, olfativas e gustativas.

Fomos muito bem recebidos na Vino! Batel no dia 31/05/2008 e fico particularmente feliz por este espaço da Comendador Araújo estar aberto para estimular o surgimento de novas confrarias e fomentar a formação de novos degustadores.
Neste primeiro encontro os confrades e as confreiras puderam provar diferentes estilos de vinificar. Um estímulo ao despertar sensorial que a degustação proporciona.

CAVE GEISSE BRUT Expedição 2005
Apresentou cor palha, bolhas adequadas e finas. Aroma de fermento, pêssego em calda. Possui boca macia e cremosa, porém apresenta também alguma adstringência. A confraria encontrou também aromas de carambola, casca de araçá e alguma citricidade. 12,5% de álcool. R$44,00.

LAURA HARTWIG CHARDONNAY 2005
Claríssimo, traslúcido, com algum brilho verdeal. Boca ácida, equilibrada. Adocidado, mel, lácteo e floral. A confraria encontrou também manteiga, canela, maresia, maçã e banana seca. 14% de álcool. R$82,50.

CHOCALÁN 2003
Este corte chileno de Cabernet Sauvignon, Merlot e Malbec apresentou aspecto denso, que os confrades compararam ao sangue venoso. Pequeno alo aqüoso. Aroma intenso, químico, pimentão verde e frutas vermelhas. Com o tempo evolui mais para a baunilha. Boca delicada, evoluída, gostosa. Boa acidez e complexidade. A confraria percebeu favo de mel, uvas passas, rosas, cravo, animal, fumaça doce e temperos como tomilho, pimenta e cominho. 13,5% de álcool. R$85,00.

BURMESTER JOCKEY CLUB PORTO RESERVA
Cor ambar escura e brilhante com alo gradativo. Aroma alcoólico, amêndoas, frutas maduras, químico. Boca adocicada, intensa e bem agressiva no álcool. É um porto de estilo forte. A confraria percebeu no palato calda de pudim, côco queimado e doce de cidra. No aroma, caramelo, tâmara, damasco, figos e passas em calda, tabaco e, curiosamente, aroma de igreja! 20% de álcool. R$56,00.