quinta-feira, janeiro 28, 2010

Barolo - Gaja Langhe Sperss 2001

No jantar de fim de ano da Confraria Bacco Ubriaco (veja o post)o português Barca Velha 2000 era a estrela da noite, causando efusivas e merecidas manifestações de elogio.
O Barolo Gaja Langhe Sperss, todavia, não agradava a mim e aos confrades. Estava fechado, não abria. Aromas e sabores não se desprendiam dele, o que me deixava intrigado, pois foram tantos Barolos até hoje e nenhum emplacava.
Trata-se de um vinho feito com uva Nebbiolo numa DOCG do Piemonte, conceituadíssima, com altas notas dos especialistas e sempre muito bem indicada. Espera-se um vinho intenso e complexo. No Decanter Wine Show do Rio em 2006 (ver Ago/06), em conversa com o Guilherme, cheguei a dizer que não sabia beber Barolos.
Felizmente, havia avisado aos confrades que chegaria atrasado ao jantar, mas que deixassem minha fração dos vinhos devidamente reservada. Jantamos, conversamos e nada do Sperss. Estar entre os amigos de confraria é muito bom e não tinha pressa nenhuma em esgotar minhas taças.
Enfim, após mais de três horas respirando no decanter e na taça, eis que surgem lampejos de vida no Barolo. Minha desconfiança virava certeza. Desconhecimento; pressa; ausência de planejamento. Algum desses fatores, ou mais de um simultaneamente, não permitiram que uma obra belíssima do mundo do vinho fosse apreciada em sua plenitude. Não era o caso de não saber beber, era de não saber servir.
Abrir uma boa (e geralmente cara) garrafa desses vinhos requer planejar a noite. Para um jantar às 20:00, é melhor abrir no máximo às 18:30 e deixá-lo perder a timidez, porque mostre suas nuances durante o evento.

GAJA LANGHE SPERSS 2001

Vinho com bela cor, brilhante. Demorou a abrir, mas uma vez "liberto" mostrou-se elegante. Junto da fruta e da especiaria, uma sensação de frescor formava o conjunto. Final perfeito, limpo e longo. R$1206,62 garrafa Magnum. WS93. VV!93-94.

Na nota o Barca Velha ainda foi melhor, contudo é necessário esclarecer que são vinhos completamente diferentes. O português é muito mais sutil e delicado. O barolo é mais denso e profundo. O Barca é emblemático do Douro, um ícone de sua linhagem. O Sperss é um excelente vinho, um bom representante de sua categoria, ainda que não seja o top do produtor.

terça-feira, janeiro 12, 2010

Se cansei de Carmenèré e Malbec? Sim e Não.

Mr Elmo perguntou nos comentários de Degustação de Encerramento 2009 se "estava enjoado de carmenere e malbec", assunto que, pelo visto, gera debate no Enoteca.
Pode ser que o debate por lá gire em torno de o mercado brasileiro estar ou não inundado de vinhos chilenos, argentinos, portugueses e etc. Para mim, o mercado brasileiro de vinhos, ainda que em grande expansão, é ínfimo em relação a suas potencialidades. Cabe muito mais vinho por aqui: Carmeneres, Malbecs e tantas outras cepas diferentes. Fica para nós, apaixonados por vinhos, a impossível e "terrível" tarefa de tentar prová-las todas.

CARMENÈRÉ
Quero abordar mais, contudo, a questão de meu gosto pessoal em si. Fui defensor da carmenèré uns anos atrás e a considerava uva de custo-benefício ideal. Atualmente, ficando na comparação histórica, prefiro Merlot do Chile à Carmenèré.
Os métodos usados no vinho de Carmenèré deixam-no muito lácteo. Notas "iogurtadas e exageradas" têm sido freqüentes nos chilenos até R$80,00.
E o que dizer de Syrah e Cab Sauv? Excelentes exemplares com essas uvas são produzidos no lado de lá dos Andes. O Chile produz muitas variedades boas para ficarmos na Carmenèré.
Lembrando de cabeça de bons chilenos, temos os Montes Alpha de Cabernet Sauvignon e de Syrah e o Marqués de Casa Concha Merlot.
Há a opção também do surpreendente Von Siebenthal Parcela 7 Assemblage com Cab Sauv, Merlot, Petit Verdot e Cab Franc.
No caso da Carmenèré, portanto, é verdadeiro: cansei. Ainda que os tops não sejam tão lácteos, fica faltando algo em minha opinião, vide meu comentário sobre o Carmín de Peúmo na Degustação de Encerramento 2009.

MALBEC
Já os Malbecs não me cansaram, não. Continuam a cair muito bem, ainda que outras cepas e combinações argentinas também não fiquem atrás.
Gosto muito dos nascidos em Luján de Cuyo e, mais particularmente, em Perdriel. Um bom exemplo da região é o Ave Premium Malbec que provei recentemente e logo estará em vídeo no blog.
Entre minhas referências com outras cepas, qualquer vinho da família Zuccardi com Tempranillo me agrada, desde o Santa Julia Tempranillo-Malbec (faixa dos R$15,00) ao Zuccardi "Q" (faixa dos R$90,00).
Já o Crios Syrah-Bonarda (na casa dos R$36,00) da Suzana Balbo oferece bela acidez e equilíbrio de outra escala de preços.
Buscando na memória cortes mais trabalhados, tanto o Luigi Bosca Gala 1 - com seu corte inusitado de Malbec/Petit Verdot/Tannat - como o Norton Perdriel Single Vineyard - Malbec/Cab Sauv/Merlot - já representam bem a Argentina.

PETIT VERDOT
Agora, se tem uma cepa que está mesmo na minha preferência é a Petit Verdot. Seja em outras regiões do mundo, seja nos vizinhos andinos, os vinhos que tenho provado com sua presença no blend sempre têm ótimos resultados. Até o Terrunyo da Concha y Toro (o meu preferido entre Carmenèrés) recebe uma pitada da pequena.