segunda-feira, dezembro 22, 2008

Terranova Blanc de Blancs Charmat

A linha Terranova popularizou o ensolarado Vale do São Francisco no mundo do vinho. Assim como no RS, a Miolo declara o ano da tiragem das espumantes do NE no envólucro. Atitude ética, para que saibamos se não estamos comprando garrafas muito antigas. A Confaria Brasileira de Enoblogs propõs que neste mês de dezembro provássemos espumantes acessíveis da escolha de cada blog. Já estamos no segundo (vide Salton Moscatel) e vamos tomar outros, com certeza.
Esta Blanc de Blancs era de Tiragem 2008, ou seja, do ano. A vinícola justifica o corte diferente de Chenin Blanc, Sauvignon Blanc e Verdejo pela boa adaptação dessas uvas a regiões de muita ensolação. O espumante tem cor amarelinho palha e pérlage média. Ao abrir demorou um pouco para sentir os aromas, pois estava fria demais. Espumantes brut não necessitam ser servidos ultragelados. Quando encontramos com os aromas, apresentou fermento e citricidade.
No paladar, tinha discreta cremosidade. Era adstringente, com nozes e fermento. Espumante adequada ao seu preço. 12% de álcool. VV!81. R$16,99 no Festval Água Verde.

sábado, dezembro 20, 2008

Salton Moscatel

Vamos provar mais esta moscatel para comparar com outras degustadas no passado.
Cor palha meio acizentada. As bolhas duraram pouco, apesar de ser Lote 08. Aromas de intensidade média. Para mim, moscatéis lembram gengibre em geral. Aqui, em Curitiba, há uma fábrica de refrigerantes que faz a gengibirra e as semelhanças são grandes.
Além de gengibirra, lembrou maçã. Vale a pena sentir o cheiro de um sachet de chá de capim cidreira, parece que a Santon Moscatel foi feita do chá.
A falta de borbulhas é sentida no paladar também. É bem doce e falta acidez para compor. É necessário servir BEM GELADA para a doçura e a falta de acidez serem compensadas pela temperatura. Esta moscatel não sobreviveu à análise técnica, mas não é de todo ruim. 7,5% de álcool. VV!74. R$15,40.
A primeira moscatel que tomei foi a Terranova. Àquela época, empolgou pela intensidade dos aromas. Com o tempo, passei a achá-la meio enjoativa, um perfumão. A Salton é um pouco melhor. Entre as nacionais que provei, fico com a Aurora Moscatel por ser mais delicada.

sábado, dezembro 13, 2008

Noite dos Sonhos

Quando pensava em Château D´Yquem, nunca imaginava que provaria tal botrytizado mitológico tão cedo.
Agora, imaginar que degustaria na mesma noite Vega Sicília "Único", Mouton Rothschild e Château d´Yquem não estava em meus devaneios mais absurdos.

Felizmente pertenço a um grupo de ousados amantes do vinho. A Confraria Bacco Ubriaco tem evoluido passo-a-passo nesses 5 anos e meio de vida. Estou certo de que nosso Presidente - a divindidade clássica responsável pela mágica transformação de uvas em vinho e pelos plácidos efeitos do álcool - tem muito orgulho destes confrades que apreciam a arte da boa bebida e da boa gastronomia.
Fomos, mais uma vez, muito bem acolhidos no Edvino e agradecemos ao sommelier Ewerton Antunes e equipe pelo sempre impecável atendimento. Sem esses profissionais dedicados certamente não poderíamos curtir plenamente tais presentes de Bacco, em noite na qual o Viva o Vinho! emplacou pela segunda vez líquidos de mais de 93 pontos (quatro de uma vez só!!!), sem contar o Haut-Brion de 2007 que não foi avaliado em nota.

CAVE GEISSE BRUT CHAMPENOISE 2005
Mesmo antes de ingressar na Bacco Ubriaco, quando era solitário nos estudos enológicos, já considerava Cave Geisse o melhor espumante nacional que conhecia. Essa garrafa com expedição em 2005 foi para confirmar mais uma vez que é produto de excelente qualidade e pode competir com os melhores do mundo. Não esperava encontrar um espumante nacional de 2005 inteiro ainda. Temos de começar uma campanha: "Abaixo às Cavas, Chega de Prosecco. Temos Cave Geisse".
Brincadeiras a parte, vamos ao vinho: Borbulhas finas e abundantes. Aroma intenso e excelente, como sempre. Notas amendoadas, de fermento e de pão. É macio em boca e, ainda assim, tem ótima acidez. Final correto, com excelente mineral. Sou fã! R$62,00 no Edvino. VV! 90.

VEGA SICÍLIA "ÚNICO" 1990
Tive o prazer de tomar a garrafa Magnum Nº001331. Como discordar do nome? Este "Único" da Ribera del Duero só é engarrafado em anos especiais. Quando não atinge os requisitos mínimos de qualidade é lançado somente o Valbueña 5. Nos anos em que é "Único", a primeira garrafa é solenemente entregue ao rei da Espanha.
Entre as particularidades de sua produção, não recebe um tratamento apenas. Enquanto envelhece em contato com o carvalho, pode passar por várias qualidades diferentes de madeira e pode ser trasfegado de tanques grandes para barricas de 225 L e retornar aos tanques tantas vezes quantas os enólogos considerarem pertinentes para conseguir a personalidade desejada. Grandes safras: 1994, 1990, 1986, 1979, ...
Ele estava belíssimo. Ninguém diria que é um vinho de 18 anos!!! Ruby ainda brilhante, com alo. A intensidade vai aumentando, abre bem tabaco. Grande aroma com especiarias, frescor e geléia de fruta que vai ficando cada vez mais doce.
Boca com bela acidez, maciez elegante e final longo incrível. Tem um calor no início da prova, mas que não deixa qualquer amargor, apenas revela a potência e a estrutura. 13,5% de álcool. R$3000,00 na In Vino Veritas. WS 95. RP 95. VV! 95.

MOUTON ROTHSCHILD 1994 AOC PAUILLAC
Um dos 5 Premieurs Crus da classificação de Bourdeux (Médoc) de 1855. Aliás, o único que foi incluido após 1855, elevado apenas em 1973. Muitos acreditam que tenha ficado de fora em 1855 porque o Château Mouton Rotschild tinha passado para controle de capital inglês. Foi o primeiro Château da região a engarrafar uvas próprias, "mis en boteille au château". Tem a bela tradição de estampar nos rótulos de cada safra uma obra de artista contemporâneo. Nossa garrafa foi agraciada por arte do pintor holandês Apel.
Entre as características da produção, destacamos que o vinho é feito em tonéis de carvalho e depois envelhece em barricas também produzidas no próprio château.
Comparando as duas estrelas tintas da noite, confesso que prefiro o Mouton ao Vega. O francês nem é de grande safra, mas mesmo assim tinha um paladar fantástico, delicado, complexo, muito mais ao meu gosto: menos bombástico e mais estiloso. E olha que 1994 foi safra somente mediana para os parâmetros de Mouton Rothschild. Dá para imaginar o que devem ser os excepcionais: 2000, 1996, 1989, 1988, 1986, 1982, 1976, 1961, ...
Belo brilho, pequeno alo e muita geléia. Demorou muito a abrir, mas nos revelou defumado, cassis, pimenta preta e fumaça doce. Boca delicada, deliciosa, com leve mineralidade que marca a complexidade gustativa. Excelente permanência. 12,5% de álcool. R$1350,00 no Edvino. WS 91. RP 91. VV! 94.

MANOIR DE GAY 2004 AOC POMEROL
Um pouco mais claro, com cor mais rosada, bem diferete dos Merlots do cone sul-americano. Aroma delicado, floral, morango. Paladar agradável e fresco, mas com taninos ainda vivos, que denotam mais um tempo de guarda. Não quero dizer que não está pronto, pelo contrário, pode ser bebido ou guardado. R$260,00 na Vino! Batel. WS87. VV! 90.

CHÂTEAU FOMBRAUGE 2001 AOC SAINT-EMILION
Em Saint-Emilion o corte de Cabernet Sauvignon, Merlot, Cabernet Franc é clássico. Pode-se encontrar algum percentual de Malbec, às vezes.
Cor bem mais escura. Aroma de ameixas pretas muito bem amalgamado na madeira. Ótima intensidade e bem complexo, com algo de terra molhada. Boca agradável, com excelente corpo e certo mineral. WS 91. VV! 93.

CHÂTEAU D'YQUEM 1998 AOC SAUTERNES
O sudoeste da França é uma das regiões do mundo onde as uvas brancas são atacadas pelo fungo Botrytis Cinerea. Ele afeta a casca fazendo micro-furos que deixam escapar água do fruto, restando o sumo concentrado. Os vinhos feitos dessas uvas mais doces ganham complexidade e qualidade. Sauternes é a região emblemática do estilo e o mítico Château d'Yquem reina único na classificação como Premier Cru Supérieur. Envelhece bem por décadas e, nas melhores safras, pode chegar aos 100 anos em condições de ser apreciado.
O dourado é realmente belíssimo. Remete a ouro imediatamente. Aroma de flores, frutas, mel, baunilha, chocolate branco. Tem um queimadinho que lembra o brullée. Grande permanência, doce sem excessos, elegante. Delicado pesinho em boca, com baunilha. Honestamente, esperava muito mais de um vinho tão cultuado, mas vale destacar que este tem "apenas" 10 anos de vida e 98 não foi safra excepcional. Algumas grandes são 2001, 1989, 1983, 1976, 1967, 1959, ... 13,5% de álcool. US$320,00 na França. WS 89. VV! 94.

sexta-feira, dezembro 12, 2008

Degustação Secreta

Fui convidado para provar em primeira mão alguns vinhos inéditos que devem chegar ao Brasil no ano que vem. Além de SECRETA, era também ÀS CEGAS a degustação.
Nosso anfitrião serviu-nos os líquidos sem mostrar o que estávamos bebendo e aproveitou para comparar os novos produtos do mercado com semelhantes já bem conhecidos, afim de perceber nossa impressão das novidades. Tenho a dizer que os argentinos do ALTO VALLE DEL RIO COLORADO, da região Las Pampas, chegarão bem situados no mercado nacional. Não posso dizer nem onde, nem como, nem quem... só não fui proibido de contar que degustei chardonnay e cabernet franc da BODEGA DEL DESIERTO.

PULENTA CHARDONNAY 2006
Palha bem clarinho. Abre para aroma bem frutado, tropical, fresco. Não considerei tão típico. Boca siples, fresca, ácida, porém muito agradável. Pouco corpo e zero lácteo. Esperava mais maloláctica de um Char argentino. 14% de álcool. R$49,00. VV! 85.

BODEGA DEL DESIERTO 25/5 2006 CHARDONNAY
Cor Palha. Aroma de abacaxi ultra maduro. Lembrou o chá de cascas de abacaxi que minha mãe fazia para tomarmos gelado. Algum milho também. Aroma pouco intenso, mas interessante. Boca com leve untuosidade, com maciez elegante e alguma fruta. Entre os 3 Char, este foi o meu preferido, ainda que em nota objetiva tenha sido o segundo. Ele é mais equilibrado e completo que os demais. Ainda não disponível no Brasil, mas por volta dos R$50,00. WS 88. VV! 86.

LUIGI BOSCA CHARDONNAY RESERVA 2006
Aromas mais lácteos no início, que se vão perdendo com o tempo. Mais amanteigado, baunilha. É mais o que espero em Char argentino. Boca mais para o milho. Soube que tem alguma passagem por carvalho. 13,5% de álcool. R$60,00. VV! 87.

BODEGA DEL DESIERTO 25/5 CABERNET FRANC 2005
Ruby clássico. Aroma de cereja, especiarias e boa acidez. Boca bem seca e tânica, típica de Cabernet Franc. Pesquisando na Wine Spectator depois, constatei que citam também azeitona preta no aroma, conferindo com uma impressão que tive, mas que foi difícil de definir. Por volta dos R$50,00. WS89. VV!85.

Os Cabernet Franc terão difículdades específicas em encarar o mercado nacional por dois motivos: 1) não estamos acostumados ao varietal 100% e 2) acredito que Cab Franc é para o corte bordalês mesmo. É um vinho com aroma bem complexo e instigante, mas, ainda que revele estrutura elegantíssima, seca muito o paladar.

D. O. CABERNET FRANC VALLE DEL MAULE 2003
Cor ruby clássica. Este Cab Franc chileno tem madeira mais elaborada que o primeiro e aroma ainda mais inteso de cereja, boa acidez, espécias, é mais frutado e tem algo de resinoso ou químico. Boca também tânica, como já era esperado. 14% de álcool. VV! 87.

quarta-feira, dezembro 10, 2008

EDVINO - Bar de Vinhos, Restaurante, etc.

Para uma ocasião muito especial, eu e minha esposa escolhemos jantar no Edvino. Bar de Vinhos com excelente ambientação, decoração detalhista e grande adega, muitos disponíveis em taça. Atendimento personalizado e cozinha de primeira. Mesmo aqueles pequenos detalhes que fazem toda a diferença estiveram presentes nessa noite quase perfeita.

Os pãezinhos do couvert não empolgaram, mas tem um charminho extra servi-los após o consommé. Para nossa entrada, pedimos dois brancos bem diferentes em taças para brincarmos. O argentino Crios Torrontés era perfumado e tinha aroma de lichia, com boca mais pesada, em um estilo com o qual me venho acostumando para esta uva. Em contraste, estava o riesling alemão Anselmann Trocken Qba. Vinho simples, de cor acinzentada, algum cítrico que lembrou limão. Um patamar acima em qualidade na comparação, bem mais elegante que o primeiro.
Os 40 rótulos disponíveis em taça são suficientes para divertir-se muito com isso. Ao invés de pedir uma garrafa, você pode ir pedindo duas ou três tacinhas e curtir uma experiência divertida, como uma degustação. Pode-se provar uvas diferentes, regiões diferentes, harmonizações, ..., tudo na mesma noite.
Para nosso prato principal, porém, solicitamos uma garrafa de Rosso di Montalcino Camigliano. Vinho elegante, com aroma de especiarias no início, doce fruta a cereja, notas de café e um certo defumado. Acompanhou explendidamente os Mignons que pedimos da ótima cozinha do Edvino. Ainda que nos tenham sugerido ao ponto (e já estava delicioso) voltarei para prová-los mal passados, pois não tem nada melhor do que um coração de Mignon tostado por fora e suculento por dentro.
O restaurante possui ambientes muito agradáveis, em geral com meia-luz. O deck não me agradou, mas o jardim de inverno é bem gostosinho. Quem fuma (ou necessita acompanhar fumantes!!!) tem a opção de ir à charutaria, mas bom mesmo é ficar bebericando seu vinhozinho no charmoso jardim, a meio-passo da mesa.
Consumido o Camigliano, era hora de uma sobremesa e um líquido doce. Pedimos um brigadeiro com café e pistache. Jogo de sabores incríveis, que arrancava suspiros a cada colher, mas que não combinava em nada com Château Ramon AOC Monbazillac. Primeiro, curtimos o doce, depois, foi a vez desse excelente botrytizado. Mais fresco e frutado que um Sauternes, apresentou algum floral, melão, maracujá, erva-doce, própolis e a doce baunilha. Que complexidade!
Já podiamos dar a noite por encerrada, mas o sommelier Ewerton Antunes ainda guardou uma arma secreta para o final: Ofereceu-nos uma taça de madeira Justino´s 10 Anos, o que podia passar por uma sugestão simples depois do Monbazillac, mas a combinação com queijo de cabra foi arrebatadora. O Madeira é um vinho forte, que ataca muito, e o queijo cumpriu a missão de fechar um pouco o centro da boca para que se realçasse mais as qualidades do fortificado. Uma experiência nova e marcante que deixou uma impressão final intensa.

Edvino - Bar de Vinhos, Restaurante e etc.
Alameda Presidente Taunay, 533
Ali na paralela à Praça Espanha.
41 3222-0037
Curitiba

quarta-feira, dezembro 03, 2008

Argento Reserva Bonarda 2007

Este é o vinho escolhido para a Confraria Brasileira de Enoblogs em Dezembro. Coube a mim indicá-lo e optei por uma uva que a confraria ainda não havia provado.
Este argentino tem cor ruby com alo rosado. Na primeira impressão, já mostrou aroma agradável de especiarias com ameixa. Com o tempo, vai ficando mais frutado.
Na boca tem corpo médio. Boca ácida de ameixas vermelhas, com tanino bem seco e final correto, sem qualquer calor ou amargor.
Essa acidez da Bonarda argentina me tem agradado e continuo considerando este vinho um ótimo custo-benefício. 13% de álcool. R$19,33 no Condor Boa Vista (é possível achar por menos em Curitiba). VV! 83.