sexta-feira, fevereiro 12, 2010

Salton Talento 2005 - Niterói e o Vinho Nacional em Pauta

TRATORIA TORTA
Já é hora de começar a investigar a gastronomia de Niterói. É claro que já andei por aqui, mas os lugares mais propícios ao vinho só começaram a ser procurados agora.
Fui na Tratotia Torta só porque era perto de casa e acabou-se tornando uma grande surpresa. Além das massas normais, de terça a quinta eles têm um festival em que você pede quantas pequenas porções quiser. Uma degustação de massas, eu diria.
O atendimento foi atencioso e impecável. Destaques culinários para o molho com couve e pato e o molho ao pesto especial, com tomate seco.
A casa promove degustações com o Celso Alzer e a carta de vinhos é bem elaborada. Alguns vinhos com preço muito acima da curva de relação com o mercado (fora de restaurante), outros com preço bem interessante.
Escolhi o Salton Talento 2005 exatanente pela sua relação com o preço de mercado. Imagino que esteja mais alinhado porque um nacional de 5 anos pode estar no limite. De fato, a rolha estava bem infiltrada e não estava completamente inserida na garrafa. Com os sinais ruins, pensei que iria ter de devolvê-la, mas encarei. Ao provar, primeiro alívio, não estava estragado.

SALTON TALENTO 2005
Ainda que no site da Salton não diga, o Notas de Degustação afirma que são 60% Cabernet Sauvignon, 30% Merlot e 10% Tannat. Ele faz parte da linha superpremium da vinícola e só é lançado em anos excepcionais. Que eu me lembre, eles lançaram 2002, 2004 e 2005 apenas.
Havia provado o 2002 (veja) e tinha agradado com seis anos de idade, ainda que ficasse faltando alguma coisa. Este 2005, com cinco anos de idade, está inteiro, mas ficou faltando aquele algo mais novamente.
Assim que aberto, mostrou as frutas com adocicado, puxando para geléia, especiarias e acidez, sendo mais marcante aromas de café e baunilha. No gustativo, os taninos atacavam um pouco o céu da boca, todavia desconfiei que depois de aerado ele podia mostrar-se mais. Já aí, percebe-se a persistência apenas média e o corpo também mediano.
Ele muda e melhora muito com o tempo, o que é ótimo para brincar com a degustação. Surgem notas de alcaçuz e a doçura se firma como chocolate. Os taninos deixam de incomodar no céu da boca e dão uma secada geral. Parece que as características da Tannat deixam para aparecer mais tarde. Por fim, ele dá uma refrescância de fim de boca que chegou a lembrar uma menta (de que gosto tanto).
Minha impressão geral é de um bom vinho, que agüentou bem os cinco anos e que só falha no corpo mediano. No 2002 a falta de corpo também foi um problema, porém, entre os dois, fico com o 2005 e minha nota objetiva confirmou essa impressão. R$56,00. VV!87.

VINHO NACIONAL EM PAUTA
Tal avaliação o coloca entre os melhores do Brasil e é bom encontrarmos nacionais nesse nível. Não me lembro de vinhos brasileiros recebendo esse tipo de avaliação nos anos 90. Houve esforço, pesquisa e investimento das vinícolas para melhorarem a produção tupiniquim. A primeira grande safra que encontrou os produtores num patamar melhor de qualidade foi 2002.
Muitos blogs gostaram do vinho, todavia continua existindo controvérsia, como se pode ler na contundente opinião do Qvinho. Gostei do Salton Talento, embora tenha de concordar que pode estar um pouco fora de preço, um mal que é geral entre as grandes vinícolas nacionais e seus melhores vinhos. Só não é possível comparar nossa vinicultura com a dos vizinhos andinos e concluir que as empresas daqui são incompetentes. Parece que o terroir lá é melhor mesmo. Não consigo imaginar nossos "ícones" valendo de R$300,00 a R$500,00. Podemos fazer bons vinhos na casa dos R$50,00. Pena que alguns queiram cobrar R$90,00.