sábado, dezembro 13, 2008

Noite dos Sonhos

Quando pensava em Château D´Yquem, nunca imaginava que provaria tal botrytizado mitológico tão cedo.
Agora, imaginar que degustaria na mesma noite Vega Sicília "Único", Mouton Rothschild e Château d´Yquem não estava em meus devaneios mais absurdos.

Felizmente pertenço a um grupo de ousados amantes do vinho. A Confraria Bacco Ubriaco tem evoluido passo-a-passo nesses 5 anos e meio de vida. Estou certo de que nosso Presidente - a divindidade clássica responsável pela mágica transformação de uvas em vinho e pelos plácidos efeitos do álcool - tem muito orgulho destes confrades que apreciam a arte da boa bebida e da boa gastronomia.
Fomos, mais uma vez, muito bem acolhidos no Edvino e agradecemos ao sommelier Ewerton Antunes e equipe pelo sempre impecável atendimento. Sem esses profissionais dedicados certamente não poderíamos curtir plenamente tais presentes de Bacco, em noite na qual o Viva o Vinho! emplacou pela segunda vez líquidos de mais de 93 pontos (quatro de uma vez só!!!), sem contar o Haut-Brion de 2007 que não foi avaliado em nota.

CAVE GEISSE BRUT CHAMPENOISE 2005
Mesmo antes de ingressar na Bacco Ubriaco, quando era solitário nos estudos enológicos, já considerava Cave Geisse o melhor espumante nacional que conhecia. Essa garrafa com expedição em 2005 foi para confirmar mais uma vez que é produto de excelente qualidade e pode competir com os melhores do mundo. Não esperava encontrar um espumante nacional de 2005 inteiro ainda. Temos de começar uma campanha: "Abaixo às Cavas, Chega de Prosecco. Temos Cave Geisse".
Brincadeiras a parte, vamos ao vinho: Borbulhas finas e abundantes. Aroma intenso e excelente, como sempre. Notas amendoadas, de fermento e de pão. É macio em boca e, ainda assim, tem ótima acidez. Final correto, com excelente mineral. Sou fã! R$62,00 no Edvino. VV! 90.

VEGA SICÍLIA "ÚNICO" 1990
Tive o prazer de tomar a garrafa Magnum Nº001331. Como discordar do nome? Este "Único" da Ribera del Duero só é engarrafado em anos especiais. Quando não atinge os requisitos mínimos de qualidade é lançado somente o Valbueña 5. Nos anos em que é "Único", a primeira garrafa é solenemente entregue ao rei da Espanha.
Entre as particularidades de sua produção, não recebe um tratamento apenas. Enquanto envelhece em contato com o carvalho, pode passar por várias qualidades diferentes de madeira e pode ser trasfegado de tanques grandes para barricas de 225 L e retornar aos tanques tantas vezes quantas os enólogos considerarem pertinentes para conseguir a personalidade desejada. Grandes safras: 1994, 1990, 1986, 1979, ...
Ele estava belíssimo. Ninguém diria que é um vinho de 18 anos!!! Ruby ainda brilhante, com alo. A intensidade vai aumentando, abre bem tabaco. Grande aroma com especiarias, frescor e geléia de fruta que vai ficando cada vez mais doce.
Boca com bela acidez, maciez elegante e final longo incrível. Tem um calor no início da prova, mas que não deixa qualquer amargor, apenas revela a potência e a estrutura. 13,5% de álcool. R$3000,00 na In Vino Veritas. WS 95. RP 95. VV! 95.

MOUTON ROTHSCHILD 1994 AOC PAUILLAC
Um dos 5 Premieurs Crus da classificação de Bourdeux (Médoc) de 1855. Aliás, o único que foi incluido após 1855, elevado apenas em 1973. Muitos acreditam que tenha ficado de fora em 1855 porque o Château Mouton Rotschild tinha passado para controle de capital inglês. Foi o primeiro Château da região a engarrafar uvas próprias, "mis en boteille au château". Tem a bela tradição de estampar nos rótulos de cada safra uma obra de artista contemporâneo. Nossa garrafa foi agraciada por arte do pintor holandês Apel.
Entre as características da produção, destacamos que o vinho é feito em tonéis de carvalho e depois envelhece em barricas também produzidas no próprio château.
Comparando as duas estrelas tintas da noite, confesso que prefiro o Mouton ao Vega. O francês nem é de grande safra, mas mesmo assim tinha um paladar fantástico, delicado, complexo, muito mais ao meu gosto: menos bombástico e mais estiloso. E olha que 1994 foi safra somente mediana para os parâmetros de Mouton Rothschild. Dá para imaginar o que devem ser os excepcionais: 2000, 1996, 1989, 1988, 1986, 1982, 1976, 1961, ...
Belo brilho, pequeno alo e muita geléia. Demorou muito a abrir, mas nos revelou defumado, cassis, pimenta preta e fumaça doce. Boca delicada, deliciosa, com leve mineralidade que marca a complexidade gustativa. Excelente permanência. 12,5% de álcool. R$1350,00 no Edvino. WS 91. RP 91. VV! 94.

MANOIR DE GAY 2004 AOC POMEROL
Um pouco mais claro, com cor mais rosada, bem diferete dos Merlots do cone sul-americano. Aroma delicado, floral, morango. Paladar agradável e fresco, mas com taninos ainda vivos, que denotam mais um tempo de guarda. Não quero dizer que não está pronto, pelo contrário, pode ser bebido ou guardado. R$260,00 na Vino! Batel. WS87. VV! 90.

CHÂTEAU FOMBRAUGE 2001 AOC SAINT-EMILION
Em Saint-Emilion o corte de Cabernet Sauvignon, Merlot, Cabernet Franc é clássico. Pode-se encontrar algum percentual de Malbec, às vezes.
Cor bem mais escura. Aroma de ameixas pretas muito bem amalgamado na madeira. Ótima intensidade e bem complexo, com algo de terra molhada. Boca agradável, com excelente corpo e certo mineral. WS 91. VV! 93.

CHÂTEAU D'YQUEM 1998 AOC SAUTERNES
O sudoeste da França é uma das regiões do mundo onde as uvas brancas são atacadas pelo fungo Botrytis Cinerea. Ele afeta a casca fazendo micro-furos que deixam escapar água do fruto, restando o sumo concentrado. Os vinhos feitos dessas uvas mais doces ganham complexidade e qualidade. Sauternes é a região emblemática do estilo e o mítico Château d'Yquem reina único na classificação como Premier Cru Supérieur. Envelhece bem por décadas e, nas melhores safras, pode chegar aos 100 anos em condições de ser apreciado.
O dourado é realmente belíssimo. Remete a ouro imediatamente. Aroma de flores, frutas, mel, baunilha, chocolate branco. Tem um queimadinho que lembra o brullée. Grande permanência, doce sem excessos, elegante. Delicado pesinho em boca, com baunilha. Honestamente, esperava muito mais de um vinho tão cultuado, mas vale destacar que este tem "apenas" 10 anos de vida e 98 não foi safra excepcional. Algumas grandes são 2001, 1989, 1983, 1976, 1967, 1959, ... 13,5% de álcool. US$320,00 na França. WS 89. VV! 94.

6 comentários:

Rafaujo disse...

O loko meu...
Isso foi uma degustação comemorativa de final de ano ou alguém na confraria ganhou na loteria?
Parabéns pela grande noite!

Na próxima passada por Curitiba, tá agendada uma maminha na mostarda acompanhada por muito ron e reggae.

Abraços

Cristiano Orlandi disse...

Leonardo,

Tá todo mundo com inveja! Mas meus parabéns!!! Deve ter sido uma noite inesqucível!

Forte Abraço!

Cristiano
Vivendo Vinhos

Anônimo disse...

Esta Bacco Ubriaco não é fraca, beberam e não "ubriacaram". Pelo custo da degustação e harmonização o pessoal não tem medo de ser feliz. parabéns sigam em frente.

Juliana disse...

UAU!!!
Ao ler parecia que eu estava sendo envolvida nos aromas e sabores fantasticamente descritos!
É sério, poderia até ter inveja, se não tivesse vivenciado na leitura os prazeres por você compartilhados!!
Parabéns Lê, pela degustação e pelo post!!!
Um beijo.

Unknown disse...

Olá onde posso encontrar o Vinho Ventus, Bodegas Fin Del Mundo, Patagônia ? riveravila@gmail.com

Manolo disse...

Mi Dios!!! Haz probado un Vega Sicília Único!!! No sé mucho de vinos pero si sé que ese vino es un sueño de consumo. Lo que más me agrada es que estás en Curitiba como yo. Ví que esa In Vino Veritas es la representante de Mistral en Curitiba no? Me gustaría darme un salto por allá aunque me asusta algo los precios jeje..., sigo comprando en el Mercado Municipal y en la nueva cava que abrieron al frente de ese mercado. Un abrazo y felicitaciones por el blog.